Vivendo o caos

No meio de agosto do ano passado, percebemos que, se continuássemos na estratégia traçada para a solução, não conseguiríamos iniciar o nosso piloto em novembro, como estava planejado. Isso porque dependíamos de outro time, que estava indisponível no momento.

Como não tínhamos flexibilidade para deixar de iniciar o piloto no prazo, a saída foi criarmos um plano B. Planejamos, mas no final a alternativa foi muito mais complexa de desenvolver do que o estimado. 

Resultado: nos meses de outubro e novembro, nós vivemos o que chamamos de "caos" - e, acreditem, a escolha da palavra não é um exagero. 

 


Imagem: Pixabay - https://pixabay.com/pt/users/victoria_watercolor-6314823/


Como este não é um post sobre agilidade, não é hora de falarmos sobre a retrospectiva, lições aprendidas e plano de ação para evitar que algo parecido aconteça novamente. 

Nosso tema é trabalho remoto e preciso dizer que seria impossível passar pelo que passei se não estivesse trabalhando integralmente em casa. Foram mais de 3 semanas de trabalho ininterrupto, sem sábado, sem domingo, sem feriado. Minha jornada de trabalho, que originalmente é de 6h, estendida pelas horas extras, tornou-se de 10h, 12h, 14h e até 16h, todos os dias, sem folga.  

Quantas madrugadas passei com o time procurando problemas no código, conversando com especialistas buscando soluções etc. Teve dia de ficarmos até 4h30 da manhã!

Em casa, economizo o tempo de deslocamento, que é de no mínimo uma hora considerando ida e volta, minimizo o risco de dirigir nesse grau de exaustão (que vocês podem imaginar como estava), assim como o risco de segurança (de andar sozinha em certos horários). Mas, mais do que isso, eu tinha o conforto de uma geladeira e um banheiro por perto. De uma cama a poucos metros, onde eu literalmente desmaiava após fechar o ponto. 

Falamos de integridade física, mas queria falar de algo ainda mais importante: meu papel de mãe. Eu jamais poderia ter uma jornada como essa no presencial, porque eu moro sozinha com a minha filha de 15 anos. Estando em casa, mesmo trabalhando, eu pude acompanhar horários, alimentação, ida e volta dos compromissos em segurança etc. 

Eu pude me fazer presente, sentar e conversar na hora das refeições, perguntar como foi a aula quando ela chegava, ouvir as alegrias e os dramas tão comuns nessa fase de vida. Pude dar colo - e também receber o seu carinho, que algumas vezes preparou o lanche para mim ou deixou recadinhos na porta do quarto me "proibindo" de levantar da cama antes de determinado horário da manhã, para que eu pudesse ao menos descansar um pouco.

Meu time precisava de mim. Sem a minha atuação (e de outros colegas, porque eu não estava sozinha nessa loucura e nos apoiávamos uns aos outros), não teríamos conseguido iniciar o piloto. E precisávamos! 

Esse foi o motivo pelo qual dei uma sumida daqui do blog (e do Linkedin, e do mundo).

Ainda estamos em piloto, ainda ajustando muitas coisas, como esperado, mas já preparando a expansão.

O caos acabou. A intensidade de trabalho continua, mas limitada à minha jornada de expediente - ok, em alguns dias ainda faço algumas horas extras, mas agora como exceção e não mais como regra.

Quando olho para trás, sou muito grata por ter passado por isso dentro da minha casa. Senão nem sei. De verdade, nem sei - e nem quero pensar, porque o custo já foi muito alto mesmo dessa forma.

Apesar de ser um motivo extremo, que não deveria acontecer (e espero que não aconteça mais), é importante refletirmos sobre como o trabalho remoto pode beneficiar tanto o funcionário quanto a empresa. Nesse caso específico, podemos dizer que a empresa ganhou mais do que eu, uma vez que, sem isso, eu não poderia dar o que ela precisava naquele momento. É um ganha-ganha - e, nesse caso, não há nada que se possa argumentar em contrário.

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